segunda-feira, 11 de agosto de 2008

11/08 - Lag. Santa GO / Paranaíba MS

Décimo dia - Km 2530

Hoje o dia foi extremamente cansativo, ontem a noite antes de dormir, reparamos que os vídeos que tínhamos feitos (muitos e bacanas demais) não tinham sido salvos direitos e tínhamos perdidos todos porque da câmera apago quando subo.
Depois de martelar a cabeça chegamos a uma solução não muito agradável, voltar na ultima lan que descarregamos as fotos e os vídeos, torcer para não terem apagado e tentar recupera-los, tudo uma improvável e a lan ficava em Inocência, 80 quilômetros de estrada pra trás.
Resolvemos que os vídeos eram recordações importantes e que os 20% de chance que tínhamos era o suficiente pra voltarmos.
De manhã, fomos a lagoa, paga pra entrar, mas hoje segundona foi na faixa. O lugar é muito bonito mesmo, fiquei imaginando minha sogra ali, apesar de que ela não gosta muito de água, mas a beleza de lá enche os olhos.
A água limpinha, quentinha...
Almoçamos, batemos a poeira das botas e terrão novamente.
A solução encontrada foi a seguinte, para que não caíssemos na tentação de voltando tão próximo da Fazenda, bater a vontade de ficar lá de novo, nos hospedamos em um hotel em Paranaíba MS, as 15:30, deixamos a moto do Paulo, as bagagens e fomos de Bros até Inocência. Meu, como foi cansativo. Um sol, o traseiro e as costas doendo, um sono.
Mas chegamos, mais ou menos 15 pras 17 horas.
Achamos os vídeos no Pc, mas foi meio demorado achar uma solução pra armazenar ou enviar. Enquanto eu ficava lá resolvendo isso, o Paulo descobriu que a saída da escola era as 17 horas, tava louco pra ver a piquininha Letícia, porque ela é uma criança “cativante dimais” realmente, fiquei roxo de inveja, queria ver aquele sorrisinho novamente, mas fazer o que né? Alguém tinha que trabalhar.
Conseguimos resolver o problema dos vídeos e voltamos a estrada já de noite.
Aquele trecho é muito perigoso, muito longo, sem nada, só fazendas como já disse, e bicho que atravessam a estrada, por isso o Paulo parou no trevo e disse: “ultima chance de ir pro Mané...”
mesmo morrendo de vontade de voltar pra lá, achei melhor voltarmos pra Paranaíba e foi isso que fizemos ignorando os 90 km perigosos a frente, assumo que com menos de 5 minutos voltando tive vontade de recuar mas persisti.
A nossa... quero dizer, a minha necessidade de voltar imediatamente tem deixado esses últimos dias muito cansativos.
Chegamos exaustos, acabados, nos arrastamos prum restaurante, jantamos, cambaleamos pro quarto e eu vim relatar.
Amanhã pelo certo deveríamos como EU prometi estar chegando, mas como vêem os imprevistos estão atrapalhando (em termos) um pouco, e pelo que sei de onde estamos até São Paulo tem uns 700 km ou mais...
Do jeito que estamos, é quase certo que não conseguiremos.
Então, até quarta pessoal. Será que vai rolar aquele churrasco?

10/08 - Inocência MS / Lag.Santa GO

Nono dia – Km 2265

Com as coisas arrumadas e poses pras ultimas fotos a choradeira começou, foi espontâneo a forma como todos pegaram amor um no outro, e em 2 dias fomos membros da família.
Tudo que fizeram por nós será lembrado pra sempre e esse cantinho tão distante e inalacançavel pra nós ficará guardado pra sempre na nossa memória, esperamos um dia poder voltar antes de 2010 como pediu a fofa da letícia.
Saímos pouco antes do meio dia e numa tomada só chegamos á Paranaíba-MS.
Almoçamos e numa segunda tomada chegamos a entrada da estrada de terra que leva a Lagoa Santa – GO.
São 14 km de terrão, porém bem melhor do que o areiãod a fazenda.
A cidade é bonita, a ponte da entrada simboliza a divisa de estado entre MS/GO, numa ponta eram 17h50 a hora que chegamos e na outra 18h50.
A cidade é bonita, decorada com luzes coloridas e bem tranqüila.
Nos hospedamos e fomos dar um pequeno passeio pra conhecer a cidade.Amanhã visitaremos a Lagoa de águas thermais e transparentes e depois do almoço, a gente ruma pra casa, em minha não tão querida São Paulo.

09/08 - Inocência MS / Inocência MS

Oitavo dia – km 2095

“Os minino!”
Foi assim que o mané as 15 pras 6 da manhã nos acordou pra ajudar, como pedimos, a ordenhar as vacas.
Tiramos leite, tomamos com toddy ali mesmo no curral, andamos de cavalo, descascamos milho pra alimentar os porcos na engorda, fomos à cachoeira.
Um dia cheio de atividades de fazenda como o prometido.
A oportunidade de conhecermos pessoas simples que é capaz de nos acolher naquela situação é tão gratificante pra nós como prazeroso pra eles, a satisfação foi mutua e isso foi notório.
Numa viagem programada isso nunca aconteceria, passaríamos por aquela fazenda á uns 120 km/h ou mais.
Acho que, quem sabe, aqueles que ainda não entendem pra que fazer uma viagem desse tipo, começa a entender.
Na ida pra cachoeira temos que pegar o areia acima até um trecho, e pra gente que é acostumado com asfalto é um esforço tremendo, mas no fundo é uma experiência a mais. Fora o tombo que tomei com a “piquininha” Letícia na garupa. Diz ela que não machucou quando caímos, foi na hora que levantei a moto e larguei em cima dela, daí machucou.
Tadinha, eu não lembro de ter feito isso, mas ela disse, fiquei preocupado mas ela com aquele jeitinho dela, aquele sotaque: “não fica sem jeito não, nem me lembro mais ó, isquici.” Então “isquici” também.
De tarde uns “peão” foi pular com os boizinho da fazenda e de cara assistimos nosso primeiro rodeio.
A noite combinamos de pra preparar o jantar, eu pegava a galinha, o Paulo matava e D. Ruth a preparava.
A correria pra pegar a galinha foi um piseiro danado. Cachorro, corre pra lá, tropeça aqui. Pegamos, matamos e enquanto D. Ruth preparava a janta, Mané, Paulo e eu fomos à cidade pra ligar, abastecer, jogar as fotos na net e comprar cerveja.
Voltando a fazenda jantamos a comidinha massa feito no forno a lenha, com as habilidades de D. Ruth.
Conversamos muito na varanda até altas horas e fomos dormir com os pedidos de ficar mais um pouco.
Mas não tem jeito amanhã temos de partir.

08/08 - Águas Claras / Inocência MS

Sétimo dia – KM 2095

Acordamos umas 8 horas dispostos a pescar conforme as promessas do Reginaldo. Tomamos café na padaria e a oficina já estava no gás, lotada de serviço.
Lá pras 11 hs o gordinho que ajuda na oficina foi nos levar pra pescar no Rio Verde.
Pegamos enrosco bastante, mas peixe que é bom nada.
Depois do almoço, arrumamos as coisas, tiramos foto com o pessoal e pau no gato!
Na hora de sair da cidade, mesmo com os rádios tele comunicadores ligados, faltou comunicação na hora de resolver onde abastecer e sem resolver seguimos viagem.
O que eu não sabia era que a estrada pra Lagoa Santa era deserta, só tinha grandes fazendas, e durante um trecho grande não havia posto.
Carro não passava, dava pra acelerar, mas a estrada não era muito boa e ouvimos muito pedido de cuidados com bichos que atravessam a estrada.
No meio do caminho topamos com uma comitiva vindo em sentido oposto, tivemos que aguardar a boiada passar, pra sair daquele poeirão.
Com 116 km, já preocupados com a gasolina na reserva o Paulo me gritou no rádio: “fudeu, fudeu, fudeu, fudeu” e deu seta pra direita.
Acabou a gasolina dele e tiramos duas latinhas da Bros que ainda tinha. Pelas informações o posto estava próximo.
Mas as motos rodaram mais 17 km e finalizou das duas juntas, no meio do nada, nada mesmo. Cerradão até onde a vista alcança.
Não foi fácil, mas conseguimos parar duas carretas pra perguntar a quantos quilômetros estava o próximo posto.
10 quilômetros.
De moto em 10 minutos estaríamos lá, mas empurrando elas, fi...
Deixamos de moita a moto do Paulo e começamos a pedir carona.
A idéia era um pegar carona pro posto, conseguir gasolina e carona pra voltar enquanto o outro esperava olhando as motos.
Era ruim pros dois porque a tarde tava caindo dando lugar pra noite naquele fim, sem gasolina, com duas motos carregadas, sem falar nas histórias de onça que o lazarento do Karkça ficou contando, rapaz...
O Paulo conseguiu carona de um caminhoneiro e eu fiquei né bicho.
Deixei as motos juntas na porteira da fazenda próxima e enquanto isso o Paulo foi trocando idéia com o caminhoneiro, falando da viagem, coletando informações.
Do meu lado a tarde caía, e quando eu menos esperava chegou uma viatura da civil, um policial com uma escopeta desceu e pediu: “mão na nuca, de costas, mão na nuca... ajoelha, ajoelha e deita no chão...COM A MÃO NA NUCA!"
Revistaram-me, reviraram as malas, mas foi tranqüilo, natural pra mim. Disseram que foi denuncia e pediram até desculpas.
Do outro lado o Paulo conseguiu garrafas, gasolina e carona pra voltar com um senhorzinho numa saveiro.
Esperando na porteira da fazenda chegou um ônibus escolar, tirei as motos do caminho e ele desceu com um monte de molecada me olhando e eu acenando.
A noite chegou e o Paulo não tinha chego.
Quem chegou foi um casal numa fan, e tava bem escuro, então um ficou ressabiado com o outro.
Ruth e Manoel.
O mane chegou logo perguntado: “estragou as motos ai?”
E eu expliquei tudo pra ele, falei que o Paulo tava demorando e tal. E ele me ofereceu uma garrafa de dois litros de gasolina pra ir atrás do Paulo.
Mas seria pior se nos desencontrássemos.
Mandei mensagem pro Paulo e ele me ligou, contando uma prévia do que viria a saber depois.

“O primeiro senhor que ele pediu carona se ofereceu. Foram numa saveirinho cinza bem antiga.
Eles foram conversando na estrada e o Paulo contando sobre tudo. Sempre se dirigindo com educação, o “senhor” aquilo, o “senhor” isso. E num certo momento da viagem, o senhor a 110 Km/h aumentou o sertanejo no ultimo volume e eles terminaram a conversa aos berros. Já era noite e a estrada tava escura, a frente o Paulo deduziu o trevo da cidade de inocência perto.
Com ele se aproximando, Paulo estranhou o senhor não ter diminuído. Quando viu que não ia dar tempo de desviar soltou o grito: “OLHA O TREVO VÉIO!”
E pau com o pneu esquerdo na guia, a lateral subiu quase a ponto de virar, pegou uma coluna de ferro, arrastou pelo gramado e cutucou a viga de concreto com as letras MS.”

Contei pro casal e mesmo com essa historia cabulosa, o cumpadi mane me ofereceu a moto dele pra socorrer o Paulo, acredita?
Deu ate o documento pra mim. falou pra ficar, ofereceu janta, banho e estadia na casa dele na fazenda. Meu...fiquei besta.
Acelerei a fan dele , encontrei o Paulo e ainda ajudamos a tirar a coluna que ficou embaixo do carro que o impedia de sair.
Outras pessoas apareceram pra ajudar então vazamos porque o casal nos esperava.
Quando chegamos com a gasolina, a Ruth e o Mané tavam preocupados. Abastecemos as motos e o mane insistiu pra ficarmos, não queria deixar a gente seguir viagem não, eita cabra de bom coração rapaz.
“A casa é uns 6km terrão pra baixo, vambora?”
E da-lhe traseira bambeando, areão subindo, rampa, mata-burro, foi como fazer um enduro com uma custom carregada.
Na casa conhecemos as duas filhas de Ruth.
Letícia e Patrícia. Duas meninas super simples e educadíssimas, uma família unida, feliz, hospitaleira.
Tomamos banho, jantamos reunidos na mesa, nos sentimos muito mais do que em casa.
Fomos dormir com uma coberta quentinha, cada um em um quarto e com promessas de um dia cheio das atividades da fazenda.
Só fui dormir meio triste e preocupado porque estou sem noticias de como estão as coisas em São Paulo.
Estamos voltando, mas os imprevistos parecem que querem compensar a outra parte da viagem perdida.