segunda-feira, 11 de agosto de 2008

08/08 - Águas Claras / Inocência MS

Sétimo dia – KM 2095

Acordamos umas 8 horas dispostos a pescar conforme as promessas do Reginaldo. Tomamos café na padaria e a oficina já estava no gás, lotada de serviço.
Lá pras 11 hs o gordinho que ajuda na oficina foi nos levar pra pescar no Rio Verde.
Pegamos enrosco bastante, mas peixe que é bom nada.
Depois do almoço, arrumamos as coisas, tiramos foto com o pessoal e pau no gato!
Na hora de sair da cidade, mesmo com os rádios tele comunicadores ligados, faltou comunicação na hora de resolver onde abastecer e sem resolver seguimos viagem.
O que eu não sabia era que a estrada pra Lagoa Santa era deserta, só tinha grandes fazendas, e durante um trecho grande não havia posto.
Carro não passava, dava pra acelerar, mas a estrada não era muito boa e ouvimos muito pedido de cuidados com bichos que atravessam a estrada.
No meio do caminho topamos com uma comitiva vindo em sentido oposto, tivemos que aguardar a boiada passar, pra sair daquele poeirão.
Com 116 km, já preocupados com a gasolina na reserva o Paulo me gritou no rádio: “fudeu, fudeu, fudeu, fudeu” e deu seta pra direita.
Acabou a gasolina dele e tiramos duas latinhas da Bros que ainda tinha. Pelas informações o posto estava próximo.
Mas as motos rodaram mais 17 km e finalizou das duas juntas, no meio do nada, nada mesmo. Cerradão até onde a vista alcança.
Não foi fácil, mas conseguimos parar duas carretas pra perguntar a quantos quilômetros estava o próximo posto.
10 quilômetros.
De moto em 10 minutos estaríamos lá, mas empurrando elas, fi...
Deixamos de moita a moto do Paulo e começamos a pedir carona.
A idéia era um pegar carona pro posto, conseguir gasolina e carona pra voltar enquanto o outro esperava olhando as motos.
Era ruim pros dois porque a tarde tava caindo dando lugar pra noite naquele fim, sem gasolina, com duas motos carregadas, sem falar nas histórias de onça que o lazarento do Karkça ficou contando, rapaz...
O Paulo conseguiu carona de um caminhoneiro e eu fiquei né bicho.
Deixei as motos juntas na porteira da fazenda próxima e enquanto isso o Paulo foi trocando idéia com o caminhoneiro, falando da viagem, coletando informações.
Do meu lado a tarde caía, e quando eu menos esperava chegou uma viatura da civil, um policial com uma escopeta desceu e pediu: “mão na nuca, de costas, mão na nuca... ajoelha, ajoelha e deita no chão...COM A MÃO NA NUCA!"
Revistaram-me, reviraram as malas, mas foi tranqüilo, natural pra mim. Disseram que foi denuncia e pediram até desculpas.
Do outro lado o Paulo conseguiu garrafas, gasolina e carona pra voltar com um senhorzinho numa saveiro.
Esperando na porteira da fazenda chegou um ônibus escolar, tirei as motos do caminho e ele desceu com um monte de molecada me olhando e eu acenando.
A noite chegou e o Paulo não tinha chego.
Quem chegou foi um casal numa fan, e tava bem escuro, então um ficou ressabiado com o outro.
Ruth e Manoel.
O mane chegou logo perguntado: “estragou as motos ai?”
E eu expliquei tudo pra ele, falei que o Paulo tava demorando e tal. E ele me ofereceu uma garrafa de dois litros de gasolina pra ir atrás do Paulo.
Mas seria pior se nos desencontrássemos.
Mandei mensagem pro Paulo e ele me ligou, contando uma prévia do que viria a saber depois.

“O primeiro senhor que ele pediu carona se ofereceu. Foram numa saveirinho cinza bem antiga.
Eles foram conversando na estrada e o Paulo contando sobre tudo. Sempre se dirigindo com educação, o “senhor” aquilo, o “senhor” isso. E num certo momento da viagem, o senhor a 110 Km/h aumentou o sertanejo no ultimo volume e eles terminaram a conversa aos berros. Já era noite e a estrada tava escura, a frente o Paulo deduziu o trevo da cidade de inocência perto.
Com ele se aproximando, Paulo estranhou o senhor não ter diminuído. Quando viu que não ia dar tempo de desviar soltou o grito: “OLHA O TREVO VÉIO!”
E pau com o pneu esquerdo na guia, a lateral subiu quase a ponto de virar, pegou uma coluna de ferro, arrastou pelo gramado e cutucou a viga de concreto com as letras MS.”

Contei pro casal e mesmo com essa historia cabulosa, o cumpadi mane me ofereceu a moto dele pra socorrer o Paulo, acredita?
Deu ate o documento pra mim. falou pra ficar, ofereceu janta, banho e estadia na casa dele na fazenda. Meu...fiquei besta.
Acelerei a fan dele , encontrei o Paulo e ainda ajudamos a tirar a coluna que ficou embaixo do carro que o impedia de sair.
Outras pessoas apareceram pra ajudar então vazamos porque o casal nos esperava.
Quando chegamos com a gasolina, a Ruth e o Mané tavam preocupados. Abastecemos as motos e o mane insistiu pra ficarmos, não queria deixar a gente seguir viagem não, eita cabra de bom coração rapaz.
“A casa é uns 6km terrão pra baixo, vambora?”
E da-lhe traseira bambeando, areão subindo, rampa, mata-burro, foi como fazer um enduro com uma custom carregada.
Na casa conhecemos as duas filhas de Ruth.
Letícia e Patrícia. Duas meninas super simples e educadíssimas, uma família unida, feliz, hospitaleira.
Tomamos banho, jantamos reunidos na mesa, nos sentimos muito mais do que em casa.
Fomos dormir com uma coberta quentinha, cada um em um quarto e com promessas de um dia cheio das atividades da fazenda.
Só fui dormir meio triste e preocupado porque estou sem noticias de como estão as coisas em São Paulo.
Estamos voltando, mas os imprevistos parecem que querem compensar a outra parte da viagem perdida.

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